Os Crucificados e Os Enforcados

quarta-feira, abril 13

 

Conta-se que no ano de Tibério César, Imperador Romano, houve um dia em que, após tumultuado julgamento e dolorosas agressões físicas, arremeteram o Nazareno à cruz. Conta-se, também, que após a crucificação do Galileu, a escuridão sobreveio assustadoramente rápida sobre Jerusalém. Um pouco antes do ato punitivo, a multidão já estava extasiada. Uns deleitavam-se e proferiam escárnios, outros pareciam sofrer com os momentos que precediam a execução da pena imposta por Pilatos. No cair da escuridão, os ventos trouxeram – com sobrenaturais silvos - a certeza do enorme erro que Roma havia cometido. O céu desabou em águas. Referência maior, só no dilúvio, cujo personagem principal chamava-se Noé, o anunciador da Justiça. Os que espezinhavam os cadáveres nas cruzes correram, impelidos por desmedido pavor. Os que sofriam por vê-los em funesta situação foram alentados pelo cumprimento da Profecia.

Tudo aconteceu no exato momento em que o Messias entregou sua alma. No afrouxar do delgado pescoço, onde a cabeça, laureada por indignos espinhos, pendeu inânime. Antes da imensurável escuridão, viam-se as silhuetas dos corpos crucificados recortadas pelo sol. A do Rei de Israel era a mais elevada do Calvário.

Maria, abismada com tamanha flagelação, quase não suportou a indescritível dor de ver seu filho sem vida, esticado na cruz romana. Os onze mais Maria Madalena partilhavam, com a outra Maria, o horrível sentimento, porém em diferentes escalas de intensidade. Alguns apóstolos rememoraram a agonia do filho de Davi ao orar com fervor em Getsêmani, pouco antes de sua captura.

Judas, o mendaz, havia cometido suicídio há algumas horas. Um famoso homem vira seu corpo pênsil, atado pelo pescoço com imunda corda, num dos ressecados e largos galhos de uma figueira, localizada em deserta estrada. A barba ainda ostentava o grosso sangue que fora expulso nas tosses e convulsões antes de a morte se avizinhar. Ninguém o viu. A isto, souberam por intermédio do homem que havia retornado à cidade para acompanhar a crucificação.

Os três soldados romanos, que receberam a incumbência de vigiar os corpos dos crucificados, acovardaram-se ao virem, com tamanho espanto, as estranhas formações que se manifestavam no céu. Assim os guardiões de Roma fugiram e, sorvidos pelo mais puro terror, deixaram os contritos de coração a chorar os executados sob o estranho fenômeno que a tudo escurecera.

O prestigiado homem que trouxera a notícia do enforcamento de Judas Iscariotes, trilhou o mesmo caminho ermo na alvorada seguinte, a fim de sair da cidade. Eis que, com inconcebível horror, constatou que os mesmíssimos três soldados romanos – o centurião e mais dois – os quais foram destacados para “proteger” a morte de Cristo, haviam se juntado a Judas. E com medo julgou ter escutado, por questão de segundos, os estertores dos quatro enforcados. Então, conduzido pelo assombro, regressou a Jerusalém, participou o ocorrido aos seus conhecidos e sumiu. Desde então, Barrabás nunca mais foi visto. 

Um Conto de Luciano Barreto

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