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Um presente para Elpídio






O sol ia alto naquele dia. O calor causticante não perdoava quem quer que fosse. As folhas das plantas estavam murchas, e murchos também pareciam estar os outros seres viventes. Alguns cachorros descansavam à sombra, sob as marquises, com suas línguas gotejantes penduradas no canto da boca. As crianças subiam a rua com suas pesadas mochilas e bochechas coradas. Algumas mulheres prendiam suas roupas ao varal. Era bom aproveitar enquanto a chuva não vinha. Os velhos... Ah os velhos! Alguns estavam sentados às praças, ou jogando milhos aos pombos, ou jogando damas com seus companheiros. Nem um desses casos era o de Elpídio.

Elpídio era um senhor que parecia ter uns cem anos, um dos mais velhos de todo o lugarejo. Mas nem ele mesmo sabia exatamente sua idade. Ficava o dia todo caminhando com dificuldade por aí, apoiando-se em sua bengala. Às vezes ficava na praça, ora assistindo aos jogos de seus amigos, ora conversando com alguém que atirava alimento para as aves. Na porta de um bar qualquer, chutava um cachorro que dormia tranqüilo, abanando a orelha para afugentar as moscas. Dali assistia as crianças retornarem da escola. Um mero espectador. Quisera ele ter tido netos, um cachorro ou simplesmente ter aprendido a jogar damas.

– Feliz aniversário Sr. Elpídio! – disse um vizinho. Ele respondeu com um resmungo qualquer. Para ele não havia motivo para comemorar.

Já havia tentado o suicídio várias vezes. Numa ocasião, amarrou a corda de sisal em um galho de um abacateiro, pôs o pescoço no laço e saltou. Depois de muito se debater e sufocar, sua vista turvou-se. Pensou que seria desta vez, mas... O galho não resistiu ao seu peso e quebrou. Lá se foram ao chão Elpídio, a corda e a madeira que antes de chegar ao solo já tinha atingido a cabeça do velho. Noutra vez, atravessou na frente de um ônibus no centro da cidade. O homem sentiu um estalo na cabeça e desmaiou. Acordou no hospital. Foi socorrido e não sofrera nada além de um osso quebrado... Na mão! Uma falange.

Sua ânsia pela morte era justificada pela vida que levava. Não havia conseguido nada de bom e ela parecia ser um grande sofrimento. Devia a tudo e a todos e sua aposentadoria mal dava para se alimentar. Se ficava o dia inteiro fora de casa, era porque sua permanência dentro daquelas paredes era um martírio. Na verdade, seus maiores problemas eram motivo tanto para matar-se como perambular ao léu. Surgiram há muitos anos...

– Mais um ano, hein Sr. Elpídio? Feliz aniversário! – disse outra pessoa, com uma entonação na voz como se falasse a um bebê. Isso era o mais ridículo de se envelhecer. Na maioria das vezes se é tratado como um recém nascido. Outra vez o velho rabugento nada respondeu.

Por trás daquela máscara de velhinho do interior, pacato, havia outra pessoa. Elpídio nunca foi um bom homem. Desde cedo aprendeu a roubar. Os artigos eram dos mais variados: Um lápis na escola, as frutas no quintal do vizinho, algumas moedas de sua mãe, o troco do dono do bar... Viciou-se nisso. Buscava sempre uma coisa de valor maior. Sua ganância por mais dinheiro e poder o consumia...

A primeira morte foi aos treze anos. Banhava-se à tardinha com um colega num riacho próximo de casa. Num mergulho do amigo, um grande volume de água atingiu seu rosto. Ficou furioso. Segurou a cabeça do outro imersa, até que ele parasse de se agitar. Soltou o corpo depois disso, e deixou que a corrente o levasse. Procuraram a criança por dias. Nunca ninguém desconfiou dele. Sua única testemunha tinha ido por água abaixo. Viciou-se nisso.

     Em certa época, algumas garotas do bairro sumiram misteriosamente. Elpídio sempre foi um belo jovem e não era difícil atraí-las para a mata ou lugares ermos. De posse de uma faca cortava o pescoço da vítima e banhava-se com o sangue que esguichava em jatos intermitentes. Acreditava que o líquido quente e vermelho o deixaria eternamente jovem... Desejava agora, não somente o dinheiro, mas a eternidade...

Foi assim por anos a fio. Uma das mulheres, antes de morrer, olhou-o com ira. Suas conjuntivas estavam raiadas de vermelho, devido à força que fizera para desprender-se do malfeitor.

– Vais me pagar desgraçado! – disse ela quase sem forças.

Foi então que seus problemas surgiram.

Não havia nada demais em sua rotina diária. Depois do trabalho, colocava uma boa roupa, tomava umas cervejas e lá pelas dez horas já estava deitado em sua cama, ressonando. Sua casa parecia serena... Nesta noite, quando o relógio de parede deu doze badaladas o inesperado aconteceu. Elpídio acordou com um choro insuportável. Esfregou os olhos e levantou, caminhando descalço em direção ao som. Afinal de onde viria? E quem era essa pessoa que estava aos prantos? Parecia ser de dentro de sua casa, mas ele morava sozinho... Então...

Chegando à cozinha avistou uma moça com uma longa camisola branca, com as mãos no rosto, soluçando de tanto chorar. Ele não pensou em nada e se aproximou.

– Quem é você? – disse ele. As lágrimas da mulher tocaram fundo em seu espírito como nunca qualquer coisa tinha feito.

De repente a mulher saltou sobre ele. Sua face transmudou de angelical para monstruoso em questão de segundos. Seus dentes pontiagudos buscavam a carne de Elpídio que lutava com todas as suas forças para livrar-se. As unhas negras da criatura estavam fincadas em seu ombro e a dor era fora do comum. Sentia o líquido quente escorrer pelas suas costas e o embate parecia não ter fim. Ela grunhia coisas inaudíveis ou incapazes de serem entendidas e seu hálito pútrido dominava as narinas do homem, causando engulhos.

– Eu não disse que ia me pagar, peste! – esbravejou o monstro no corpo de uma mulher.

Elpídio tinha o corpo cheio de chagas que latejavam fortemente. Acordou no outro dia sem uma sequer. As dores, porém, continuavam. Todos os dias sua angústia era a mesma. À meia noite, doze badaladas eram a porta de entrada das almas que ele havia despachado para o além mundo. A cada dia, mais uma se juntava à mulher que o tinha atacado a primeira noite. Tornaram-se dezenas.

Para fugir de seu destino trancava a porta de seu quarto, mas isso de nada adiantava. Quebrou o relógio, mas isso também não tinha efeito. Mudou de casa, enforcou-se, atirou-se embaixo de carros... Nada parecia solucionar seu drama. E todo dia que passava, toda noite mal dormida, todo ano que surgia, parecia mais tenebroso. Por isso não comemorava mais nenhum aniversário. E nesse não seria diferente. Preparou-se para o encontro que ele desejava ser o último.

Sentou-se à beirada de sua cama. Exatamente no horário de costume, sombras se esgueiravam pelos cantos das paredes e surgiam por baixo dos móveis. As pessoas atravessavam as paredes ou abriam a porta, entrando no cômodo para fazer-lhe companhia. Algumas caminhavam agachadas ao teto como aranhas... Enquanto uns choravam, outros esbravejavam maldições para Elpídio. Se ameaçasse retrucar, atiravam-se sobre ele, arranhando e mordendo, arrancando-lhe pedaços de carne. Por um momento desvencilhou-se. Estava desesperado. Suas mãos enrugadas e trêmulas empunharam uma pequena faca cortando os pulsos. Tudo estaria terminado, mas para sua surpresa, não sangrou uma gota sequer.

– Ah... Então é este o presente que quer este ano? A morte? – disse uma das almas, gargalhando insanamente.

O velho então sentiu uma forte dor no peito. Curvou-se até o chão, babando e gemendo. Olhava suplicante para as almas que sorriam. Tinha os olhos marejados e estava ofegante. Sua vista foi escurecendo lentamente. Seu braço esquerdo tinha adormecido, bem como todas as extremidades de seu corpo. Deitou ao chão sem forças e sorrindo. Finalmente estava tudo acabado!

Abriu os olhos lentamente. Estava em uma assustadora e espessa escuridão. Percebeu que não respirava, não tinha mais necessidade disso. O frio parecia atingir-lhe os ossos e passou a mão na pele, para se aquecer, sentindo feridas purulentas que doíam mais do que antes. O cheiro de podre empesteava todo o ambiente. Ouviu gargalhadas que ecoavam distantes como em uma caverna de mármore.

– Ora Elpídio... Não achou que faltaríamos à sua festa, não é?

– Não! Por favor, não! – gritava ele, chorando, enquanto sentia seu corpo ser devorado por todos os lados.

– O teu presente somos nós. Feliz aniversário...


Um Conto de George dos Santos Pacheco

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A Passageira de Caronte







Enfim, cinco horas da tarde. Quanto esperou por isso! O trabalho era cansativo em uma metalúrgica. Agora, todos saíam felizes, ansiosos para estarem com as suas famílias e descansarem. Norton não. Ele nem era casado. Já afirmar se ele tinha filhos ou não, aí já é outra história.


Ele era almoxarife. Ganhava bem, mas seu sonho era ter um negócio próprio, um mercado talvez. Trocou o uniforme, pôs bastante perfume. Qualquer um que o visse perceberia que estava apaixonado. Seus olhos brilhavam. Caminhou por entre seus colegas sem conversar, pois estava com pressa. Ia encontrar-se com sua namorada, em seu trabalho. Tudo começara há uns seis meses atrás, quando foi lá a primeira vez, com uns amigos. Havia ido só para se divertir, mas os olhos de Paloma, parecendo perdidos, distantes, o hipnotizaram. E depois, tem a bebida e todo aquele clima libidinoso, tudo conspirando. Apaixonou-se à primeira noite. Subiram para o quarto, mas Norton não era como os outros. Amaram-se, mas ele tratava-a com um carinho que Ana nunca havia experimentado. Esse era seu nome verdadeiro, foi o que ela revelou a ele na noite seguinte.

– Seu tempo acabou... – disse ela levantando-se da cama. Norton estava deitado, nu, fumando um cigarro, com as mãos cruzadas por trás da cabeça.

– Fique mais um pouco... – disse ele.

– Tempo é dinheiro meu bem. – disse ela com a voz gutural.

– Eu pago pelo seu tempo.

Ela olhou-o por algum tempo em silêncio e deitou-se ao seu lado. O almoxarife deu um tapinha em seu peito, chamando-a para deitar a cabeça ali, o que ela relutantemente aceitou.

– Não vai me querer outra vez? – perguntou ela estupefata.

– Não. Quero apenas ficar aqui conversando um pouco. – disse ele apagando o cigarro no cinzeiro que havia ao lado.

– O meu trabalho não é esse. Vá procurar uma psicóloga. – disse ela tentando se levantar.

– Fique aqui queridinha. Por que a pressa? – disse ele segurando-a.

– Eu vim foi para trabalhar, não foi para ficar conversando com você.

– Eu já disse que vou te pagar! Há quanto tempo está nessa vida?

– E por que quer saber? – perguntou ela desconfiada.

– Por nada! Apenas quero saber... – disse ele acariciando seu braço que estava sobre sua barriga.

– Deve ter uns dois anos.

– Dois anos? E quanto anos você tem mocinha? – disse ele. Sua pergunta não era sem sentido. Paloma era extremamente jovem, tinha um rostinho angelical e um corpo pequeno e esguio, embora fosse cheio de volúpia.

– Mas o que é isso? Você é polícia? – perguntou ela levantando a cabeça do peito dele.

– Mas você é desconfiada mesmo, hein? Estou só conversando com você!

– Eu... eu tenho vinte anos. Na verdade, vou fazer vinte anos ainda.

– Começou cedo, hein? Por quê? – disse ele coçando seu cavanhaque.

– Ora, por que... Eu sei lá por que! Minha família passava algumas dificuldades, lá na roça. Meu pai bebia e batia em mim e em minha mãe, quase todos os dias. Por que eu ia ficar ali? Decidi fugir assim que fosse possível. Fugi e acabei vindo para cá.

– Seu nome não é Paloma... – especulou ele.

– Por que está fazendo tantas perguntas?

– Ora, gostei de você mocinha. Você é uma graça! – disse ele segurando o queixo dela e se aproximando para beijá-la.

– Epa! Beijos não estão incluídos no pacote, então, por favor, não me beije. – disse ela levantando-se da cama e pondo as peças de roupa. Os beijos eram uma lenda entre as mulheres da vida. Pelo menos Paloma parecia não gostar de beijos. Diziam que isso era medo de se apaixonar. Norton não pensou duas vezes. Levantou e correu ao encontro dela, abraçando-a fortemente e beijando-a, à revelia. Paloma acabou aceitando e beijando-o também.

– Então, qual é o seu nome? – perguntou ele abraçado a ela ainda.

– Não devia ter me beijado... – disse ela se esquivando, terminando de colocar suas roupas, que não eram muitas.

– Ora, mas você também queria! Não vai me dizer seu nome? – disse ele com um largo sorriso.

– Chega de perguntas! – disse ela num sorriso enigmático ao abrir a porta, ficando com ela entreaberta. – Se quiser saber, venha aqui amanhã e pague pelo meu tempo... - disse ela jogando um beijo com as mãos.

Então ela também havia gostado do beijo... Isso para Norton tinha sido maravilhoso. Desceu do quarto e voltou para a mesa com seus amigos. Sorria como ninguém.

– Demorou à beça, hein cara? – disse Leon, que estava com uma moça sobre o colo. – E então?

– Talvez um pouco, mas vejo que ficou em boa companhia! – disse tomando a bebida de um copo que já estava na mesa. Olhou ao redor para ver se encontrava Paloma, mas não a viu. Decidiu fazer como ela havia pedido. Voltaria amanhã para saber seu nome.

Voltou no dia seguinte, no outro, no outro também e em quase todos os dias durante esses seis meses. De tanto ir ali encontrar-se com Paloma, que a essa altura ele chamava apenas de Ana, ou Aninha, ela já não lhe cobrava mais os programas. Estavam apaixonados. Apesar disso, ele não se importava com seu trabalho. Queria apenas ela para si, fosse como fosse. A desejava ardentemente, como a nenhuma outra mulher...

Todos já sabiam de seu namoro e isso acabou virando motivo de pilhéria entre seus amigos. Como assim, namorar uma prostituta? Isso não faz sentido. Existem muitas moças de bem, de família, por aí. Por que justamente uma mulher da zona? Elas só existem para a diversão... Norton, você é um tolo!

Ele nem se importava, mas achou que podia melhorar a situação. Precisava apenas tirar a mulher dessa vida. Ninguém faria mais troça com ele, e ela se tornaria uma mulher de respeito e ninguém poderia falar nada. Não demorou a propor isso.

– Como assim casar?

– Você vem comigo, eu lhe dou uma casa e uma vida digna. Não vai mais precisar ficar pela madrugada, deitando-se com esses caras nojentos... – disse ele nervoso, fumando um cigarro após o outro.

– Não se esqueça que foi assim que eu lhe conheci...

– Não, não me esqueço. Mas agora quero casar com você, ter filhos. Não quer ter filhos?

– Sim, é claro que quero! Mas não entende, você me pegou de surpresa...

– Quer um tempo para pensar? Eu lhe dou um tempo para pensar...

Estava ansioso pela resposta de Ana. Saiu do trabalho, todo perfumado e foi procurá-la na boate. Ficou por ali bebendo como sempre, esperou uma folga de Aninha e subiu para o quarto com ela. Beberam um vinho barato, fumaram e se amaram. Depois do êxtase, deitaram-se um ao lado do outro, e ficaram a conversar sobre coisas comuns.

– Então? Pensou sobre minha proposta? – disse ele entre uma tragada e outra.

– Você vai ficar me perguntando por isso a toda hora? Assim que eu tiver uma resposta lhe direi, não se preocupe... Mais tarde conversamos no hotel... – disse ela vestindo-se.

Norton desceu e ficou conversando com o rapaz que servia as bebidas, assistindo a um show de strip-tease. Tinha gente de todos os tipos ali. Homens, mulheres, caminhoneiros, marinheiros... Buscavam um pouco de diversão, um amor que não tinham sem pagar por ele. Estavam felizes, bebendo, se amando, aplaudindo, dando gargalhadas. Era uma orquestra triste de sons e luzes...

O movimento foi ficando cada vez mais fraco, até que lá pelas três da manhã, havia umas poucas pessoas. O almoxarife aguardou que sua noiva trocasse de roupa e saíram de mãos dadas. Foram para o hotel Afrodite, que ficava próximo à boate. Era lá que a moça passava o resto de suas noites, geralmente acompanhada de Norton. Pela manhã ia para um curso que fazia. Ana também não queria ficar no cabaré para sempre. Cumprimentaram o senhor da portaria e foram para sua quitinete. Norton sentia uma leve tontura. Talvez tivesse bebido além da conta.

Tomaram um banho juntos, como sempre, deitaram-se e amaram-se mais uma vez, como sempre. O pequeno apartamento ficava à altura dos postes, o que o deixava às claras mesmo com suas luzes apagadas. 

O almoxarife adormeceu sem saber a que horas. Parecia entorpecido por uma coisa qualquer. Lembrava-se apenas do rosto de sua amada a beijar-lhe e do sabor do vinho em sua boca. Acordou com o sol ofuscando seus olhos e sentindo um frio intenso. Parecia que a cama estava completamente molhada. Olhou para o lado e encontrou Ana deitada sobre uma enorme poça de sangue, que vinha até ele. Seu corpo também estava todo molhado, por isso sentia tanto frio. A mulher tinha os olhos abertos, fixos, sem brilho algum. Sua garganta estava cortada de um lado a outro. Entre eles dois havia uma faca que, assustado, Norton pegou.

– Não é possível! Não é possível! – disse ele com lágrimas nos olhos, sentado à cama, olhando para a mulher morta. Teve medo, e atirou a faca para um canto qualquer do quarto. Levantou-se de súbito e ficou andando de um lado para outro. Isso não podia ter acontecido à sua Ana! Foi até a cabeceira da cama, pegou a garrafa de vinho, e um dos copos. Cheirou-os. Apenas cheiro de vinho, como era de se esperar. Assustou-se com batidas fortes na porta.

– É a polícia! Saia daí com as mãos para cima! – disseram do outro lado da porta.

O que Norton faria agora? Não tinha tido tempo nem de se limpar daquele sangue. Foi até a janela da frente. Tinha umas duas viaturas lá embaixo. Os policiais estavam na porta. Não podia deixar que o vissem assim. Não foi ele quem fez isso, mas não sabia como alguém poderia ter feito.

Pôs rapidamente sua roupa. Os policiais gritavam mais e mais e ameaçavam derrubar a porta. Foi até a janela de trás. Não havia ninguém no beco para onde a janela dava. Era sua única saída. Levantou-a tentando fazer o mínimo de barulho possível. Cerca de um metro e meio abaixo da janela havia um parapeito onde ele podia se esgueirar até o cano da calha de chuva, o qual ele poderia usar como escada. Tinha que ser rápido, os policiais logo arrombariam a porta e encontrariam as marcas de sangue na janela. Desceu, mas a uns dois metros do chão o cano cedeu e ele caiu. Com certeza ouviram o som de sua queda, afinal, lá de baixo pôde ouvir o momento em que os policiais entraram na quitinete.

Correu o mais rápido que podia, tinha que se esconder. Precisava descobrir quem tinha cometido aquela barbaridade. Ou era ela quem iria pagar o pato. Mas afinal, quem poderia ter matado Ana?


Um Conto de George dos Santos Pacheco
 

Dezembro 13 © Copyright 2010

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