Charles Dickens, O Gato Preto

terça-feira, março 1











Katherine resolveu deitar um pouco, afinal, estava exausta de limpar a casa a manhã toda. Chamou seu gato preto, Charles Dickens, para descansar com ela.


Dormiram parte da tarde. Quando Katherine despertou, ao seu lado Charles Dickens tomava banho, olhou para a dona com certa tristeza.


– Está com fome, não é, Charlie? – Ela afagou as orelhas do bicho. – Vou conseguir comida para você.


Katherine levantou cambaleando de preguiça – detestava dormir pela tarde, sempre acordava pior do que quando fora dormir. Saiu do apartamento e seguiu para a rua a procura de uma vítima.


Ela não tinha nenhuma preferência, mas o almoço não era para ela, e Charles Dickens sim, era exigente.


Andou até a livraria, a alguns quarteirões do seu prédio. Em frente à vitrine, parado, estava um rapaz, muito bonito por sinal.


Ela parou ao lado dele e se mostrou interessada em um livro em exposição.


– Queria muito ler este – e apontou para o volume. – Mas é caro demais!


– Um absurdo, realmente! – Ele falou bastante entusiasmado. Pronto. Ele tinha caído.


Ela abriu um lindo sorriso que ele retribuiu.


– Sou Katherine Brooks – lhe estendeu a mão.


– Sou Taylor Adams – e retribuiu o cumprimento com um sorriso.


– Estou procurando alguém forte que possa ajudar a levar minha pobre e velha mãe ao hospital.


– Bem, se você quiser, posso ajudá-la.


– Só se não for incomodá-lo.


– Claro que não!


– Vamos então, por aqui.


Os dois seguiram ao apartamento conversando sobre livros. Mas Taylor pensava na beleza da nova amiga. E talvez depois de levar a mãe dela ao hospital, ele poderia convidá-la para sair.


– Chegamos. Entre, vou buscar minha mãe – ela usou um tom de voz bastante suave.


Taylor foi até a sala, começou a olhar as fotos dispostas nas paredes. Bizarro, pensou. Eram imagens do chão, cama, e vários outros lugares sem pessoa alguma.


“Cada um com sua mania”, pensou talvez mesmo em voz alta.


Como Katherine estava demorando, ele resolveu conhecer o lugar. Olhou em volta. “Que sala mais bagunçada e suja”. Sentiu uma ponta de arrependimento de ter entrado ali. Mas antes que pudesse pensar em sair, já era muito tarde. Alguma coisa o atingiu em cheio na cabeça e tudo escureceu.


– Charlie, sua comida chegou, agora é só corta-la – ela sorriu e seus olhos transmitiam insanidade.


Com horrorosa precisão ela cortou a carne, separou uma parte para o gato e outra para guardar em potes no freezer.


– Charlie, coma meu pequeno bebê – ela acariciou as orelhas dele. – Enquanto isso vou me livrar dos ossos.


Ela deixou um pires com a carne para Charles Dickens e levou os restos para a lixeira em frente ao prédio.


Por vários dias Charles Dickens teria sua ração.


Algum tempo depois Katherine acordou com fortes batidas na porta.


– Já vou. Já vou – gritou calçando a encardida pantufa, com paciência absurda vestiu o roupão e seguiu para a porta.


– Pois não? – perguntou com voz suave.


– Senhora, somos da polícia...– Oh, aconteceu alguma coisa?


– Ainda não sabemos. Mas alguns vizinhos seus disseram sentir um cheiro muito forte vindo do seu apartamento. E pelo jeito eles têm razão.


Katherine continuava olhando como se nada estivesse acontecendo.


– Teremos de inspecionar seu apartamento.


– Claro, sem problemas – ela deu passagem a eles.


Os policiais entraram e o cheiro realmente estava insuportável. Eles tentaram se proteger colocando as mãos no nariz. Um policial foi direto à cozinha, abriu o freezer e ficou horrorizado com o que viu.


O outro policial, no quarto, não conseguiu agüentar e vomitou ao lado da pilha de carne humana apodrecida sobre um pires.


Enquanto isso, Katherine se sentou no sofá e acariciou Charles Dickens, enrolado do seu lado direito.


O policial que estava próximo ao freezer pegou o celular e discou um número, olhando de quando em quando para Katherine.


– ... Imediatamente! – Foi a única palavra que ela conseguiu ouvir.


Alguns minutos mais tarde uma ambulância estacionou em frente ao prédio. Os enfermeiros entraram e levaram Katherine para o hospício, sem que ela contestasse.


– Katherine – começou o psiquiatra –, entenda, você tem uma terrível alergia a pelos de animais, você não pode e nem nunca teve um gato.


Ela foi mandada de volta ao quarto.


Katherine estava deitada na cama acariciando Charles Dickens, o gato preto.


– Você está com fome, não é meu bebê?


Em seguida um enfermeiro entrou. Mas não saiu.


Um conto de Celly Borges

Comentários 1 Comentário:

Heidi Gisele Borges disse...

Ei, Márcio, obrigada por postar meu conto!

Beijo!

10 de novembro de 2009 às 17:01

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